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Quarta-feira, 25 de maio de 2005 10h14
Descontente com a CBF, Ronaldo pede descanso da seleção
SÉRGIO RANGEL
da Folha de S.Paulo

Entrou areia nas férias de Ronaldo, que planejava trocar a seleção por praias da França e Espanha em junho e julho, durante o recesso do futebol europeu.

O jogador do Real Madrid está descontente com a sua convocação para a disputa da Copa das Confederações, que começará no dia 15 de junho, na Alemanha.

Ronaldo afirmou que será "muito prejudicado" e prevê passar dois anos sem descanso.

"Sinceramente não sei os motivos e o critério. Não falaram nada comigo. Achei até estranho", disse Ronaldo à Folha, em conversa ontem no campo de treinamento da federação espanhola em Las Rozas, arredores de Madri.

Um dia antes, o supervisor da seleção, Américo Faria, ameaçou quem não quiser jogar o torneio alemão. "Quem ficar de fora da Copa das Confederações estará mais distante da Copa de 2006."

"No melhor estilo largado", como definiu, Ronaldo contrastava ontem nos corredores no centro de treinamento com os demais galácticos à sua volta. Ele estava de sandálias Havaianas brancas e agasalho da Nike, sua patrocinadora. O inglês David Beckham passava ao seu lado de calça jeans da Calvin Klein, com um pedaço da cueca à mostra, camisa amarela e óculos de sol de lentes violeta.

"É assim que gosto de me vestir", disse o atacante, no trajeto de cerca de cinco minutos, sob um sol forte, do vestiário até a sala de recreação do CT.

Ronaldo condenou o racismo e disse que não consegue entendê-lo. "Eu, que sou branco, sofro com tamanha ignorância. A solução é educar as pessoas." Conta que o preconceito com ele "é outro, bem menos grave". "As pessoas me chamam de gordinho."

Ronaldo, 28 anos e ganhos anuais de R$ 62,8 milhões, está solteiro. O conturbado fim do casamento, de menos de três meses, com Daniella Cicarelli não o faz concordar que a ex-mulher foi a vilã da história. "Tem muita gente falando besteira por aí. É o nosso país...", reclama.

Folha - O que achou do Cafu e do Roberto Carlos terem ficado de fora da Copa das Confederações e você ter sido convocado?
Ronaldo - Sinceramente não sei os motivos e o critério. Não falaram nada comigo. Achei até estranho. Sempre houve uma conversa antes. Nos próximos dias, vou entrar em contato com a CBF, porque vou enfrentar um problema muito grande. Vou ficar quase sem férias.

Folha - Pretende jogar a Copa das Confederações?
Ronaldo - Ainda não tenho posição. Quero falar com a CBF antes de tomar qualquer decisão.

Folha - Acha que será prejudicado por jogar o torneio?
Ronaldo - Acho que ficaria muito prejudicado. O próximo ano será de Copa do Mundo. Sendo assim, vou ficar dois anos sem férias. Infelizmente, os jogadores são os últimos a dar opinião. Se tivéssemos um calendário único, não teríamos problema. A Fifa deveria escutar mais os jogadores. Afinal, somos nós que jogamos. Não há dirigente que jogue bola.

Folha - A Copa das Confederações é importante?
Ronaldo - Estar com a seleção sempre é importante, mas a Copa das Confederações não tem o mesmo valor da Copa do Mundo nem a mesma repercussão. Infelizmente, é igual à Copa América. Já ganhamos muitas nos últimos anos e daí? Ninguém fala, ninguém comenta, mas, se perder, é aquela confusão. Para não sobrecarregar o calendário dos jogadores, os torneios de menor importância teriam que ser eliminados.

Folha - O que acha da candidatura brasileira para o Mundial de 2014? O país tem chance?
Ronaldo - Acho possível, mas não é só querer. O problema é muito maior do que se pode esperar. É uma restruturação do país, dos estádios, dos hotéis.

Folha - O Brasil está pronto para encarar isso?
Ronaldo - Não, mas pode ficar. Financeiramente, vai contar com a ajuda da Fifa. Se não for bem organizado, o Pan-Americano de 2007 pode prejudicar.

Folha - O que espera do jogo contra a Argentina pelas eliminatórias da Copa?
Ronaldo - Será um clima meio quente, mas é normal. Brasil e Argentina sempre têm rivalidade.

Folha - Se eles começarem a chamar os brasileiros de "macaquitos"? Pode haver reação?
Ronaldo - Não. Nenhuma. Dentro de campo, acontece até coisas piores. Não se pode levar as coisas a sério. Existe sempre a provocação e a catimba. No jogo, acontece de tudo. Temos de ser mais espertos. Eles nunca me chamaram de "macaquito".

Folha - O que achou do caso Grafite e Desábato?
Ronaldo - Está acontecendo a mesma coisa aqui na Europa em relação ao racismo. Acho uma ignorância enorme. São pessoas sem educação e sem cultura.

Folha - Consegue entender essa onda de racismo no futebol?
Ronaldo - Não consigo. Mas também não acho que no futebol aquelas atitudes são somente racismo. Às vezes, os torcedores pegam no pé para implicar com os jogadores. Acreditam que aquele atleta pode perder o controle.

Folha - O Samuel Eto'o [artilheiro do Barcelona] é um dos que mais sofrem...
Ronaldo - Acho que todos os negros sofrem. Eu, que sou branco, sofro com tamanha ignorância. A solução é educar as pessoas.

Folha - Já passou por isso?
Ronaldo - Não diretamente, mas me ofende quando ocorre com um amigo meu. Comigo o preconceito é outro. Aliás, é bem menos grave. As pessoas me chamam aqui de gordinho. Mas não me incomoda.

Folha - Seu peso é um dos tabus do futebol. Qual é o seu peso ideal? Quanto pesa hoje e quanto já chegou a pesar?
Ronaldo - Isso nunca foi mistério. É um exagero enorme. Atualmente, peso 87 quilos. Estou superbem com ele. O problema é que na televisão as pessoas engordam. Quando me olham pessoalmente, as pessoas ficam surpresas. Estou bem e fazendo gols. No Real Madrid, há controle de peso.

Folha - Há menos de um mês, você se encontrou com o Maradona. Como foi?
Ronaldo - Maravilhoso. Ele pediu para me encontrar e foi tudo bem. Ele é um grande ídolo mundial. Um cara que vi jogar muito. Fiquei feliz de encontrá-lo e ver que está se recuperando. Ele me contou muitas histórias do futebol. Rimos muito da água que eles [argentinos] deram para o Branco. [No Mundial de 90, os argentinos teriam oferecido uma água com tranqüilizante para os jogadores brasileiros]. Foi superdivertido. Quem fez foi o treinador [Carlos Bilardo], que só avisou para o Maradona e para o Ruggeri. Ele disse que os brasileiros estavam acabando com o jogo. Numa hora da partida, ele se jogou ao chão para acalmar os brasileiros e pediu água. O Branco foi correndo lá e também pediu. Ele tomou da garrafa batizada e não jogou mais nada, segundo o Maradona. A bola batia na canela dele e saía [risos]. Na saída do estádio, o Maradona lembrou que o Branco ficou no ônibus só fazendo sinal para ele [risos].

Folha - Em que posição coloca o Maradona?
Ronaldo - Coloco o Maradona e o Zico como os maiores que vi dentro das quatro linhas. Como sou flamenguista doente, o Zico é o melhor de todos. Disse isso ao Maradona e ele entendeu.

Folha - Você está em que lugar nesse ranking?
Ronaldo - Não tenho essa pretensão. Não me coloco em nenhum lugar.

Especial
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