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Terça-feira, 06 de janeiro de 2004 07h06
Aedes transgênicos têm menos filhotes
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Ser um mosquito da dengue transgênico não é um bom negócio: os insetos modificados põem menos ovos, são menos férteis e morrem com frequência muito maior, de acordo com um estudo de cientistas nos EUA. Os dados sugerem que ainda vai demorar muito antes que mosquitos sob medida para não transmitir a doença se tornem opções viáveis.

O desempenho das formas transgênicas de Aedes aegypti só não pareceu mais pífio porque ele foi comparado com o de uma cepa do inseto criada em laboratório por mais de 30 anos --e que, portanto, não precisava lidar com os desafios da sobrevivência já há um bom tempo.

"A nossa suspeita é que uma população realmente selvagem teria se mostrado ainda mais vigorosa que os transgênicos, já que a cepa que usamos provavelmente tem alto grau de consanguinidade", afirma o especialista em controle biológico neozelandês Mark Hoddle, da Universidade da Califórnia em Riverside. Ele é o autor principal do estudo que sai na edição de hoje da revista científica "PNAS" (www.pnas.org).

Um sonho antigo de muitos pesquisadores mundo afora é alterar o material genético de insetos transmissores de doenças para diminuir ou até eliminar a capacidade dos animais de passar adiante os verdadeiros causadores de moléstias, como o vírus da dengue ou o plasmódio, microrganismo que gera a malária. Isso poderia ser feito, por exemplo, dando aos mosquitos genes de resistência aos causadores de doenças.

Antes do trabalho de Hoddle, já havia sido verificado que a inserção de DNA estranho nos mosquitos do gênero Anopheles, transmissores da malária, diminuía as chances de sobrevivência dos insetos. O neozelandês e seus colegas compararam o desempenho reprodutivo e de sobrevivência de três versões transgênicas do Aedes aegypti com o inseto de laboratório a partir do qual elas foram criadas.

O gene estranho era, na verdade, apenas uma versão da GFP (proteína fluorescente verde, na sigla inglesa), usada para marcar de forma visível os animais transgênicos. Cada grupo foi mantido separado e só cruzou entre si.

Em todos os quesitos, os mosquitos normais ganhavam de goleada. Numa das ninhadas, por exemplo, 64% dos insetos não-transgênicos viveram até a fase adulta --o máximo que os transgênicos conseguiram foi 11%. Uma vez adultos, os mosquitos normais viviam mais tempo. As fêmeas não-modificadas punham mais ovos, e uma proporção maior deles era viável em comparação com os postos por fêmeas transgênicas.

Para Margareth de Lara Capurro, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP que estuda mosquitos transgênicos, o resultado não surpreende. "A alteração de apenas um gene já pode influir no comportamento do mosquito." Por outro lado, diz Capurro, os pesquisadores deveriam concentrar seus esforços em achar genes de resistência às doenças, coisa que não foi demonstrada com sucesso até agora, segundo ela.

"Ainda não temos idéia do que aconteceu para diminuir o sucesso dos transgênicos. Pode ser que o DNA estranho tenha se inserido num gene importante e o tenha alterado ou que ele próprio tenha algum efeito nocivo nos mosquitos. Pretendemos investigar isso daqui para a frente, assim como formas de tornar a inserção mais previsível", afirma Hoddle.

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