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Terça-feira, 13 de janeiro de 2004 09h09
Substância barra muco produzido na asma
RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Uma equipe de pesquisadores de quatro países --Brasil, França, Alemanha e EUA-- descobriu um composto capaz de impedir a liberação excessiva do muco, um problema que costuma afligir as vítimas de problemas respiratórios como asma, bronquite crônica e fibrose cística.

O muco é um fator de proteção do organismo, principalmente nas vias respiratórias. Mas a produção de grande quantidade de muco é um fator de risco para a mortalidade de pacientes de diversas doenças respiratórias, segundo os sete autores do estudo.

"Correntemente, não há terapias disponíveis para tratar a hipersecreção de muco", afirmam os pesquisadores no artigo descrevendo a pesquisa, publicado na edição de fevereiro da revista médica "Nature Medicine", que já disponível pela internet na página www.nature.com/nm.

"Esses achados dão o fundamento para o desenvolvimento de novos compostos que podem ter um importante lugar na terapia de desordens de hipersecreção de muco", escreveram os autores na conclusão do artigo.

Não seria, no entanto, a "cura" da asma, pois essa condição inclui outros sintomas.

Camundongos asmáticos

O estudo foi feito com camundongos asmáticos no laboratório do brasileiro Boris Vargaftig, no Instituto Pasteur, em Paris, utilizando o composto desenvolvido por Kenneth Adler, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, EUA.

Vargaftig é especialista em inflamação pulmonar e fez sua carreira no exterior. Sua contratação em Campinas foi vetada pelo regime militar em 1964. Depois de 12 anos na indústria e de se aposentar após 25 no Pasteur, ele agora está voltando ao Brasil, para trabalhar no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

A descoberta da substância, um peptídeo (pedaço de proteína), que poderá no futuro servir de base para o desenvolvimento de um remédio para a hipersecreção de muco, é apenas parte do trabalho. O estudo de Vargaftig também ajuda a elucidar um aspecto do processo de inflamação e alergia. A asma é causada por constrição dos brônquios e tem um forte componente alérgico.

"O conceito importante é que existe um estímulo para a produção de muco, que não é obrigatoriamente secretado. A secreção é um segundo estágio. O peptídeo não impede a produção, impede a secreção", afirmou Vargaftig, em entrevista por telefone em Paris.

O muco é produzido em determinadas células, e o peptídeo parece agir ao bloquear a saída da substância de dentro delas.

Em estudo anterior recente, Adler e colegas mostraram que uma determinada proteína, conhecida pela sigla MARCKS, é fundamental para a produção da mucina --a proteína do muco-- em células humanas do brônquio cultivadas em proveta. Também foi demonstrado que um fragmento da MARCKS, conhecido como MANS, afetava a liberação da mucina.

O passo seguinte era testar a ação da MANS em animais. Para isso foi escolhido um camundongo de uma linhagem européia algo rara, a BP2, capaz de desenvolver asma com facilidade, numa forma que lembra a doença encontrada nos seres humanos.

Um grupo de camundongos foi tratado antes com o peptídeo MANS. Outro grupo recebeu apenas uma solução salina, para servir como controle.

Esses últimos animais tiveram um aumento de muco cinco vezes maior que o normal depois que os ataques de asma foram induzidos. Os que receberam o MANS tiveram redução de muco correspondente à dose que receberam, chegando mesmo a produzir o muco em níveis abaixo do normal.

Também foi usada uma linhagem de camundongos, a BALB/c, menos suscetível de contrair asma, mas mais comum nos laboratórios, o que facilita a repetição do estudo por outros pesquisadores. Esses outros animais também testaram a hipótese de que os efeitos observados poderiam ser resultados específicos da linhagem, e não necessariamente do peptídeo. Os resultados foram essencialmente os mesmos, de acordo com os pesquisadores.

Testes em humanos

Testes preliminares não indicaram efeitos tóxicos nos camundongos, mas novos exames, com uso prolongado da substância, são necessários antes de um teste em seres humanos.

Caso de fato surja um medicamento a partir desses estudos, ele seria indicado principalmente para períodos curtos, segundo Vargaftig, não necessariamente para uso prolongado. Serviria, por exemplo, para aliviar o sofrimento das vítimas de carcinoma brônquico, um câncer letal em que o paciente solta muco pelo nariz até no simples ato de respirar.

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