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Terça-feira, 10 de fevereiro de 2004 07h51
Tom Jobim é o mais popular, dizem físicos
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Misturar estilos e ritmos sempre foi um dos segredos do sucesso da música brasileira, mas pesquisadores da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) usaram precisão matemática para mostrar que a MPB é mesmo uma geléia geral --ao menos quando se trata dos principais compositores do Brasil, Tom Jobim à frente.

A conclusão é do físico Liacir dos Santos Lucena, 62, e de seus colegas do Departamento de Física Teórica e Experimental da Universidade Federal e do Departamento de Biofísica da UFRN. Os pesquisadores mostraram que o mundo da música popular brasileira é tão pequeno que, em média, apenas 2,3 "graus de separação" se interpõem entre compositores tão diferentes quanto Villa-Lobos e Zeca Pagodinho.

E isso levando em conta que o conceito de MPB da equipe está longe de ser tão estrito quanto o dos críticos musicais. "Decidimos não fazer nenhum tipo de edição dos dados, para evitar vieses", afirma o pesquisador, referindo-se ao banco de 5.834 compositores e 984 intérpretes brasileiros na página do Instituto Itaú Cultural (www.itaucultural.org.br), usado como base para a pesquisa. Por isso, entraram no estudo de pagodeiros a roqueiros, passando por nomes originalmente da música erudita, como Heitor Villa-Lobos.

O trabalho, na verdade, usa um conceito cada vez mais comum na física estatística, o das redes (ou "networks"), que podem unir desde conhecidos numa cidade a grupos financeiros ou sites na internet, afirma Lucena.

"No caso, os compositores eram os nós da rede. Considerávamos que havia uma conexão entre eles quando um cantor ou conjunto gravava, no mesmo disco, músicas dos dois", explica o físico.

Ligações perigosas

Com base nessas relações binárias entre os compositores, os pesquisadores puderam traçar qual era o nível de conectividade de cada compositor, bem como a distância média entre eles. Ou seja: mesmo no caso dos que não haviam tido "contato" direto, quantos intérpretes intermediários seriam necessários para conectá-los. É daí que vem o número 2,3 --a média de intérpretes que separam um compositor do outro.

O número, de acordo com Lucena, já deixa claro que a rede da música brasileira é do tipo "mundo pequeno". Praticamente ninguém está isolado, e não há subgrupos muito conectados dentro de si mesmos, mas separados do todo. O número médio de conexões por compositor foi de pouco menos de 174, de acordo com o estudo dos físicos.

Um exemplo claro disso é que apenas dois graus de separação estão entre o compositor romântico Nelson Ned e o erudito Villa-Lobos. Isso acontece porque Agnaldo Timóteo gravou tanto músicas de Nelson Ned quanto de Antonio Marcos, enquanto Maria Bethânia gravou músicas de Villa-Lobos e de Antonio Marcos.

Apesar dessas ligações mais populares, os campeões de conectividade são mesmo as figuras da MPB mais prestigiadas pela crítica, com Tom Jobim ocupando o topo da lista. Noel Rosa, Pixinguinha e Gilberto Gil fecham a lista dos dez mais conectados.

"Os intérpretes que gravaram as músicas de Tom Jobim gravaram as de muitos outros compositores e pertencem a todos os estilos musicais", afirma Lucena. É o chamado efeito de ligação preferencial, na linguagem estatística: quanto mais gente grava as músicas do compositor, mais intérpretes querem gravá-las.

Mulheres em baixa

Algumas surpresas, no entanto, apareceram na análise. Roberto Carlos, por exemplo, não ocupa posição de destaque (27º). E o número de compositoras é baixo, por razões que Lucena considera difíceis de elucidar. Nenhuma estava colocada entre os 20 mais conectados. A mais bem colocada é Dolores Duran, em 32º lugar.

"O mais fascinante agora é entender o porquê desses padrões", afirma o pesquisador da UFRN, que pretende tornar disponível os achados na internet.

O trabalho da equipe de Natal foi publicado na edição deste mês do periódico internacional especializado "Physica A" (www.elsevier.nl/locate/physa). Os alunos do curso de graduação de física da UFRN que participaram do estudo tiveram apoio do PET (Programa de Educação Tutorial).

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