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Terça-feira, 03 de agosto de 2004 07h12
Equipe estuda partículas para decifrar sumiço da antimatéria
SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A ciência acaba de confirmar: algumas partículas elementares são mais "mal-humoradas" do que suas irmãs gêmeas, e essa diferença de gênio pode explicar por que todas as coisas do mundo hoje são feitas de matéria, e a antimatéria só aparece, em pequenas quantidades, quando fabricada em aceleradores de partículas.

O experimento, realizado no Slac (Centro Acelerador Linear de Stanford), na Califórnia, EUA, foi de babar. Ou melhor, do BaBar --sigla simpática que designa o grupo responsável pelo experimento "B and B-bar [B-barra]". São os nomes das partículas estudadas, também chamadas pelos íntimos de mésons B e anti-B.

O drama é o seguinte: os átomos que servem de matéria-prima para todas as coisas no Universo, de estrelas a cachorros, são compostos por prótons (com carga positiva), elétrons (carga negativa) e nêutrons (sem carga). Mas não demorou para que os físicos teóricos notassem que o Big Bang, explosão que teria dado origem ao cosmos, tinha tudo para ter produzido igual quantidade de umas partículas muito parecidas com essas, mas com cargas elétricas opostas --a famosa antimatéria.

Apesar disso, não há vestígio de estrelas ou cachorros feitos de antiátomos, o que deixa os cientistas com a pulga atrás da orelha: para onde foi a antimatéria?

Sabe-se que partículas e antipartículas, ao colidir, se aniquilam mutuamente, liberando energia. Então pronto: a antimatéria sumiu se chocando com matéria e virando energia, pensaram os físicos. Só resta um probleminha. Se, nos primórdios do Universo, matéria e antimatéria existiam em quantidades iguais, como pôde acabar sobrando alguma matéria para contar a história?

Entra em cena a pesquisa conduzida pelo grupo do BaBar. Chocando elétrons e seus antiirmãos, os pósitrons, os cientistas obtiveram os tais mésons B e anti-B. Essas partículas são em geral bem instáveis e irritadiças, o que quer dizer que têm vida curta e logo viram outras partículas mais simples. Mas o B parece ser ainda mais mal-humorado que o anti-B.

"Enquanto 910 exemplares de méson B decaíram, apenas 696 de anti-B fizeram a mesma coisa", diz Marcello Giorgi, físico do Instituto Nacional de Física Nuclear da Itália, participante do estudo internacional conduzido nos EUA e que será publicado futuramente no periódico "Physical Review Letters" (prl.aps.org). "Isso quer dizer que a taxa de decaimento de matéria é diferente da de antimatéria", arremata.

Assimetrias desse tipo, chamadas tecnicamente de violações de carga-paridade ("charge-parity violations"), podem acabar explicando o porquê de, no final das contas, ter sobrado um pouco mais de matéria no cosmos.

O próprio pessoal do BaBar, em 2001, já havia detectado uma quebra de simetria entre as partículas --mas algo pequeno, da ordem de quatro partes por milhão. Desta vez, observando cerca de 200 milhões de pares B e anti-B, eles chegaram a uma discrepância de 13% entre os decaimentos de uma e de outra. "Já esperávamos detectar uma assimetria, mas não prevíamos que seria tão grande assim", afirma Giorgi.

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