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Sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005 10h12
Vacina de DNA impede volta de tuberculose, dizem pesquisadores
REINALDO JOSÉ LOPES
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Dois estudos publicados neste mês por cientistas do Brasil e da Coréia podem representar um passo decisivo para deter a tuberculose, mal que mata 2 milhões de pessoas por ano no mundo. Combinando vacinas de DNA com remédios já usados contra a doença, os pesquisadores conseguiram impedir que ela voltasse depois de ser aparentemente debelada.

O resultado vale tanto para remanescentes da Mycobacterium tuberculosis (a bactéria da doença) que resistiam em organismos sãos quanto para a chegada de novas versões do micróbio, que poderiam pegar de surpresa o sistema de defesa do corpo.

Embora os dados venham de testes com camundongos, a equipe brasileira já está pronta para começar os testes em pacientes humanos.

"Estamos terminando de escrever o projeto para a Conep [Comissão Nacional de Ética em Pesquisa] e esperamos começar neste ano", disse à Folha Célio Lopes Silva, imunologista da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e coordenador do estudo nacional. "Creio que será fácil aprová-lo porque ele não tira do paciente o tratamento normal contra a tuberculose, apenas adiciona a vacina de DNA", avalia.

Todo mundo está acostumado a pensar nas vacinas como meio de prevenção, e não como um tratamento para quando o organismo já sucumbiu, mas a tuberculose exige uma abordagem diferente.

O tratamento tradicional faz com que as bactérias M. tuberculosis se tornem virtualmente indetectáveis, mas basta uma fraqueza do sistema imune (como a que acomete os doentes de Aids, por exemplo) para que elas voltem com tudo.

Para piorar, existe uma gama de linhagens diferentes do micróbio, muitas delas resistentes às mais diversas drogas. "Nas áreas endêmicas, como as grandes favelas, isso é um problema sério, porque a pessoa vive se reinfectando", explica Silva.

Empurrãozinho

O jeito é dar uma mãozinha ao sistema imune, como faz a vacina do pesquisador da USP e a dos coreanos liderados por Youngchul Sung, da Universidade Pohang de Ciência e Tecnologia.

Nos dois casos, usa-se o gene que contém as instruções para uma produção de uma proteína da bactéria, que o sistema de defesa do organismo é capaz de reconhecer e à qual pode reagir. Os dois estudos estão na mesma revista científica, a "Gene Therapy" (www.nature.com/gt) --o brasileiro na versão impressa deste mês e o coreano na on-line.

Com a ajuda de um plasmídeo --um "disquete" de DNA que é comum em bactérias--, o gene vai parar nas células da pessoa que se quer proteger e permite a produção da proteína bacteriana.

Silva e seus colegas preferem usar uma proteína chamada hsp65 da M. leprae (prima-irmã do micróbio da tuberculose). Ela é liberada em condições de estresse, quando a bactéria invade o interior dos macrófagos (células do sistema imune). Sung usa as proteínas Ag85A e PstS-3.

"As funções de ambas ainda não estão muito claras, mas elas provavelmente estão envolvidas na formação da parede celular e no transporte de substâncias através dela", conta o microbiólogo britânico Doug Lowrie, do Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido. Lowrie trabalhou com Silva em parte do desenvolvimento da vacina brasileira.

Genes à parte, a estratégia deu certo em ambos os casos. Primeiro, os camundongos que foram infectados com a bactéria ficaram sem nenhum traço dela no corpo depois do bombardeio combinado de remédios e vacinas. Passados meses, não houve retorno de micróbios latentes. E, quando novas bactérias foram administradas aos roedores, a vacinação conseguiu diminuir muito ou até eliminar completamente a linhagem recém-chegada.

"Esse estudo [o de Sung] repete e confirma nossos achados conjuntos, mas a confirmação em si é muito importante, porque outros tinham encontrado poucos efeitos da vacina, e um laboratório havia registrado efeitos adversos com todas as vacinas terapêuticas, inclusive as de DNA", afirma Doug Lowrie.

Para o cientista britânico, as vacinas de DNA são muito seguras e devem se tornar aliadas das terapias convencionais. "Por enquanto, elas ainda são muito caras, mas a melhora dos métodos de produção quase certamente vai puxar seu custo para baixo."

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