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Sexta-feira, 04 de março de 2005 10h34
Clínica já faz censo de embrião congelado
CLÁUDIA COLLUCCI
SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Com o projeto da Lei de Biossegurança aprovado no Congresso, os pesquisadores estão ansiosos para colocar as mãos nos embriões que serão descartados pelas clínicas de reprodução. Mas ninguém sabe quantos existem, e a estimativa dada pelos cientistas de que haveria pelo menos 30 mil deles é tida como um exagero pelos especialistas. Para resolver a questão, a SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) deve iniciar uma contagem.

A instituição já está consultando todos os associados para levantar quantos embriões estão armazenados nas clínicas, de acordo com a médica Maria do Carmo Borges, presidente da SBRA. Ela desconhece a origem do número --30 mil-- que vem sendo citado por congressistas e pesquisadores nos últimos meses.

Há quem diga que se trata de exagero. "Acho que é um número superestimado, um chutômetro", afirma o médico Roger Abdelmassih. E os cientistas admitem a imprecisão. "Eu fiz uma estimativa, mas ela pode estar errada. Sempre tive a preocupação de saber esse número", diz Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano, da USP. "Mas se as clínicas estão dizendo que é menos, então deve ser menos."

Para Lygia da Veiga Pereira, também da USP, mesmo que haja menos do que o estimado, os embriões devem dar e sobrar. "Se não forem 30 mil, se forem só 3.000, mesmo assim ainda temos material mais do que suficiente para as pesquisas de todos os grupos atualmente capazes de trabalhar nisso", afirma. Ela descarta a possibilidade de que haja o risco de uma "corrida pelos embriões" entre os pesquisadores.

Os embriões congelados em clínicas de reprodução só poderão ser utilizados em pesquisas se houver autorização dos casais, por escrito, para esse fim.

Hoje, quando há sobra de embriões em uma FIV (fertilização in vitro), casais assinam um documento em que optam pela doação a outro casal infértil ou pela a manutenção do congelamento por prazo médio de cinco anos, pagando uma semestralidade em torno de R$ 400. Não há a opção de uso para pesquisa científica.

Ontem, centenas de pessoas ligaram, aflitas, aos centros de reprodução, temendo que seus embriões fossem utilizados sem o seu consentimento. Também houve registro de casos de famílias que telefonaram para autorizar o uso científico dos embriões. Segundo Abdelmassih, duas pacientes que já tiveram filhos por FIV manifestaram a vontade de doar seus embriões congelados.

"Nenhum embrião poderá ser usado sem autorização do casal. Isso é impensável", afirma Borges. A presidente da SBRA também não sabe como se dará o processo de transferência desses embriões aos centros de pesquisa.

Tanto ela como Abdelmassih acreditam que, para que isso ocorra, será necessário conhecer bem a seriedade dos centros de pesquisa e o objetivo dos estudos.

Para o ginecologista Ricardo Baruffi, do Centro de Reprodução Humana Sinhá Junqueira, de Riberião Preto (SP), está havendo também uma confusão na interpretação do projeto de lei sobre os embriões potencialmente candidatos às pesquisas.

"As pessoas estão entendendo que, após três anos, os embriões se tornam inviáveis. Isso não é verdade. Há registro de gravidez com até nove anos de congelamento", conta. O texto do projeto é claro: podem ser utilizados embriões inviáveis ou que já estejam há mais de três anos congelados.

Na clínica Sinhá Junqueira, por exemplo, há cerca de 5.000 embriões congelados --3.000 com mais de três anos.

Outro dado que os pesquisadores deverão levar em conta, de acordo com Baruffi, é que a maioria dos embriões congelados tem entre dois ou quatro dias, não são blastocistos --embriões com cinco a seis dias de vida e cerca de cem células--, condição para as pesquisas com células-tronco.

É possível tentar atingir esse estágio após o descongelamento, mas há uma perda: cerca de 40% dos embriões não sobrevivem ao processo, segundo os médicos.

Oposição

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), contrária à pesquisa com células-tronco embrionárias, manteve ontem sua posição e informou entender que o assunto deveria ter sido mais debatido na sociedade antes da aprovação da lei no Congresso.

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