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Segunda-feira, 18 de abril de 2005 09h56
Farmacêutica alega engano em caso de fraude científica
SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A empresa de comunicação que serviu de intermediária entre a companhia farmacêutica britânica AstraZeneca e a médica americana Adriane Fugh-Berman no caso que levou à denúncia de uso de "ghostwriters" (autores-fantasmas) em estudos científicos diz que tudo não passou de um engano. O editor da revista científica em que a denúncia foi publicada, no entanto, descarta a hipótese.

Adriane Fugh-Berman, uma pesquisadora da Universidade Georgetown, nos EUA, diz que foi contatada pela Rx Communications, trabalhando em nome da AstraZeneca, em meados do ano passado. No contato inicial, a empresa teria tentado recrutá-la para assinar um estudo que Fugh-Berman não escreveu, ocultando uma ligação entre os resultados e interesses da indústria farmacêutica. Ela recusou a proposta.

Meses depois, foi convidada pelo "Journal of General Internal Medicine" para dar um parecer sobre um artigo. Constatou que era o mesmo que havia sido oferecido a ela. O "JGIM" decidiu não publicá-lo e, em vez disso, saiu com um artigo de Fugh-Berman recontando todo o caso.

A AstraZeneca negou que o artigo em questão, que falava sobre interações entre ervas e um medicamento anticoagulante chamado warfarin, tenha sido fruto de "ghostwriting", embora confirme que "a maioria das companhias farmacêuticas, incluindo a AstraZeneca, usa escritores profissionais para auxiliar no desenvolvimento de manuscritos".

A Rx Communications agora também apresentou suas justificativas. "Podemos confirmar que nenhum dos artigos mencionados pela dra. Fugh-Berman foi escrito sob falsa identidade", disse à Folha Ruth Whittington, porta-voz da empresa de comunicação.

"Por engano, enviamos uma versão de um artigo de um autor nosso para a dra. Fugh-Berman. Já pedimos desculpas por esse erro há alguns meses, e a explicação de como isso foi acontecer foi dada à dra. Fugh-Berman, ao "JGIM", ao autor e à AstraZeneca."

A AstraZeneca, embora tenha sido supostamente informada do engano pela Rx Communications meses atrás, não mencionou nada disso em sua primeira reação à denúncia de Fugh-Berman.

Mesmo assim, a Rx mantém sua versão. "Nós refutamos as alegações no artigo [de Adriane Fugh-Berman] e tanto o jornal [esta Folha] quanto a dra. Fugh-Berman publicam esses comentários por sua conta e risco", declarou Whittington, por e-mail.

Editor contra-ataca

William Tierney, editor do "JGIM", confirmou que a Rx Communications havia mencionado o engano, depois que a revista científica contatou a autora que terminou por concordar em assinar o estudo, depois que Fugh-Berman recusou-se.

No entanto, ele diz ter razões para crer que não houve engano algum. "Nós não acreditamos nisso na época e eu ainda não acredito, por três motivos", disse o editor à Folha.

"Primeiro, o manuscrito era da área de especialidade dela [Fugh-Berman]. Quanta coincidência é preciso para enviar por engano esse manuscrito em particular? Segundo, ela nunca enviou outro manuscrito. Se a Rx cometeu um erro, por que eles não enviaram o artigo correto quando ela disse que não ia aceitar seu "autora" do primeiro? Terceiro, temos evidências (mas não provas, pois o manuscrito não foi preservado) de que esse mesmo manuscrito foi oferecido a pelo menos um e possivelmente dois outros acadêmicos para serem o "autor". Eles na verdade tentaram mandar o artigo para várias revistas científicas diferentes recrutando vários "autores". A Rx Communications está mentindo."

Tierney não pára por aí.

"Eles também dizem que não houve autoria-fantasma. Ah, é mesmo? A autora do manuscrito original submetido ao "JGIM" admitiu livremente que recebeu um manuscrito-rascunho com citações da literatura revisado pela Rx Communications, que ela então editou e ampliou.

É fato que a pessoa ou as pessoas trabalhando para a Rx Communications que redigiram o manuscrito original não foram listadas como co-autoras, nem nos agradecimentos. Isso é, pela minha definição, autoria fantasma.

Finalmente, a relação financeira entre esse autor fantasma e a companhia farmacêutica que financiou o artigo de revisão não estava indicada no manuscrito, como é exigido pela política da nossa revista."

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