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Sexta-feira, 08 de julho de 2005 09h48
Célula-tronco vai tratar fígado de pacientes na Bahia
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Se tudo der certo, daqui a um ou dois meses as células-tronco adultas vão passar por um novo e importante teste em seres humanos no Brasil. Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) da Bahia pretendem utilizá-las contra uma série de enfermidades que afetam o fígado, o que poderia tirar pacientes em situação crítica da fila de transplantes.

Segundo o médico Ricardo Ribeiro dos Santos, que coordena os estudos na Fiocruz baiana, falta apenas o aval da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, que regulamenta esse tipo de teste) para que os transplantes comecem. "Aqui na Bahia, a espera por transplantes de fígado se tornou um problema social muito sério. Apenas 10% dos pacientes que estão na fila acabam conseguindo o órgão", contou Santos à Folha. "Muita gente acaba morrendo enquanto espera."

Esses doentes, com moléstias que incluem cirrose e hepatite crônica, serão o alvo do estudo clínico. Os cientistas esperam que as células-tronco adultas aumentem sua sobrevida e melhorem o funcionamento do fígado.

A julgar pelo desempenho desse tipo de célula para tratar problemas cardíacos, a tarefa não tem nada de impossível. Pessoas com o coração afetado pela doença de Chagas, por exemplo, apresentaram melhora significativa do órgão. Cientistas brasileiros também já utilizaram esse tipo de célula em alguns testes clínicos bem-sucedidos contra derrame cerebral, diabetes tipo 1 e lesões na medula espinhal.

A razão para esses sucessos, no entanto, ainda não está clara. Em princípio, as células-tronco funcionam como curingas fisiológicos, tendo o potencial de se transformar em vários tipos de tecido.

Imaginava-se que apenas as células-tronco embrionárias, provenientes (como o nome sugere) de embriões de poucos dias com cerca de cem células, seriam capazes de se transformar em qualquer tecido, de músculos a neurônios. Do ponto de vista terapêutico, isso as tornaria ideais, se não fosse por dois problemas, um ético e outro técnico.

Para obtê-las, é preciso destruir o embrião do qual provêm; além disso, os cientistas estão só começando a entender como controlá-las, já que, se deixadas ao léu, podem criar tumores monstruosos compostos por uma maçaroca de tecidos, os teratomas. "Basicamente, elas fazem o que querem em laboratório", resume Ricardo Ribeiro dos Santos, que está estudando células-tronco embrionárias de camundongos para entender melhor esse potencial.

Versatilidade adulta

No entanto, há evidências de que algo da versatilidade embrionária também esteja presente nas chamadas células-tronco adultas, como as da medula óssea (que normalmente dão origem aos diversos tipos de célula do sangue) e as do cordão umbilical. A medula óssea é a principal fonte de células para os testes clínicos brasileiros.

"No caso do coração, o que nós estamos vendo é que aparentemente há transdiferenciação [ou seja, elas se transformariam mesmo em células musculares do coração], há fusão celular [com as células que já estavam no coração] e há formação de vasos sangüíneos", diz Santos.

Muitos dos céticos em relação ao potencial das células-tronco adultas argumentam que esse processo seria o dominante, ou até o único: o coração só melhoraria porque mais vasos permitiriam que ele fosse irrigado com mais sangue, e não porque ele realmente estivesse se reconstituindo com o transplante. Por enquanto, ainda é difícil dizer o que realmente está acontecendo no uso dessas células.

Sem rejeição

De qualquer maneira, tudo indica que o processo implica poucos riscos, já que as células vêm da medula óssea do próprio paciente --ou seja, não há rejeição. No caso do fígado, as células serão coletadas nos ossos do quadril e reimplantadas com um cateter, pela artéria hepática, que irriga o fígado.

"Assim, elas devem se encravar no órgão todo", afirma Santos. Segundo o pesquisador, testes em camundongos já mostraram que o procedimento pode reduzir a fibrose (uma espécie de "cicatriz" no órgão, que perde parcialmente as funções). "Em humanos, só encontrei um artigo relatando o trabalho de um grupo chinês, aparentemente com bons resultados", afirma ele.

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