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Sábado, 23 de julho de 2005 13h55
O parasita faz o homem, diz biólogo da Fiocruz em palestra
RICARDO BONALUME NETO
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Fortaleza

"Parasita" não é uma palavra bonita. Vem do grego, e significa "aquele que come de ou com outro" --isto é, à custa do vizinho. Parasitas causam inúmeras doenças em homens, animais e plantas. Mas o biólogo Marcos André Vannier dos Santos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Salvador, divulgou ontem uma imagem diferente desses seres na 57ª reunião anual da SBPC (Associação Brasileira para o Progresso da Ciência).

Sem parasitas, argumenta o biólogo, o ser humano não seria o que é. E nem faria sexo.

"Muito do que existe no nosso organismo veio de outros seres, já existia nos micróbios e parasitas", afirmou Vannier. Ele exemplifica a importância do fenômeno citando as mitocôndrias, pequenos órgãos celulares ligados à geração de energia: originalmente, elas teriam sido bactérias que acabaram se fundindo a outras células --tanto que ainda conservam DNA próprio. A cauda dos espermatozóides e até o núcleo das células também teriam vindo de micróbios.

"Há micróbios até com neurotransmissores", disse o pesquisador, em uma palestra bem-humorada que durou quase o dobro do previsto. E mesmo a gênese da placenta na mulher grávida inclui uma proteína de origem viral com papel importante.

"Há dez vezes mais bactérias que células humanas no nosso organismo. Nós somos um grande condomínio de bactérias", disse o pesquisador da Fiocruz.
Existem mais de 300 espécies de helmintos (vermes) e mais de 500 de bactérias só na flora intestinal. "De 70% a 80% dos seres vivos são parasitas", diz ele, usando uma definição mais elástica do termo.

Há diversas maneiras de os seres vivos se relacionarem. Pode existir uma simbiose entre duas espécies, uma associação na qual ambas são beneficiados; outro caso pode envolver comensalismo, quando há benefício para uma delas, mas não ocorre prejuízo para a outra. Já no parasitismo uma espécie (o parasita) se beneficia e outra (o hospedeiro) recebe danos, mas raramente a morte. E, por fim, na predação, uma espécie devora a outra.

Uma mesma espécie pode variar o relacionamento com a outra. Vannier cita o caso de um papagaio na Nova Zelândia que come carrapatos em ovelhas, o que é benéfico para ambos. Mas, faltando carrapato, o papagaio rasga a pele da ovelha e vai bicando e comendo sua gordura.

Malária do Bardo

Vannier não gosta da associação da parasitologia com "medicina tropical", pois dá a impressão de que só nos trópicos existem parasitas. Ele lembra que existem oito citações da malária nas peças de Shakespeare, e que a própria palavra vem do italiano para "mau ar", que se achava no passado ser a fonte da doença. Há parasitas típicos de Primeiro Mundo, como a Giardia lamblia, um microrganismo que é uma das principais inimigas do trato intestinal em países ricos.

"O sexo pode ter surgido como uma predação entre protozoários", diz o entusiasmado pesquisador, um recordista em provocar risadas na platéia entre os palestrantes na reunião da SBPC. "É um pouco como o casamento: começa comensalismo, vai evoluindo e pode terminar na predação", disse, provocando mais risadas no público.

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