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Sexta-feira, 16 de dezembro de 2005 09h32
Gene de peixe ajuda a entender câncer
RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Um gene identificado em um peixe comum em aquários deu a primeira pista importante para a compreensão da variedade de cores da pele entre seres humanos. Mas a pesquisa não é mera curiosidade científica. O gene também poderá servir de base, no futuro, para tratar uma forma letal de câncer de pele.

O peixe de listras horizontais azuis e amarelas, nome científico Danio rerio, é conhecido no Brasil como paulistinha e nos EUA como "zebrafish". É um dos animais favoritos para estudos genéticos.

A cor da pele em seres humanos é determinada pelo pigmento melanina, que protege contra radiação ultravioleta que pode causar câncer. A incidência da doença tende a ser maior em populações de pele clara vivendo em locais de sol intenso, como a Austrália.

"O melanoma maligno é um câncer de pele altamente letal que no momento não tem tratamento eficaz. O objetivo de um tipo de tratamento, a imunoterapia, é atacar partes das células malignas, e com isso matá-las. Proteínas encontradas nas células de pigmento, de onde deriva o melanoma, são alvos comuns para a imunoterapia", disse à Folha Keith Cheng, pesquisador da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), que identificou o novo gene.

A equipe de 25 pesquisadores liderada por Cheng estuda o assunto há uma década. Eles descobriram agora que uma versão alterada de um único gene, chamado slc24a5, faz os paulistinhas terem listras mais claras. A variante é conhecida como "dourada".

Seres humanos têm um gene semelhante. Ao ser enxertado em peixes da variedade dourada, ele fez com que a cor do peixe revertesse à cor normal da espécie.

"A mudança de um só aminoácido [um dos tijolos que constituem as proteínas] no gene desempenha um papel fundamental na pigmentação e explica por que os europeus têm a pele mais clara que os africanos", disse Cheng.

Os paulistinhas dourados apresentam menos e menores compartimentos chamados melanossomos, onde ficam os pigmentos que dão cor ao animal. Os cientistas acreditam que a proteína cuja receita está escrita no gene slc24a5 possa servir de alvo para terapias.

"Nosso gene adiciona mais um alvo para os pesquisadores", diz Cheng. A descoberta está descrita em artigo na edição de hoje da revista científica "Science" (www.sciencemag.org).

Variações individuais

Um trabalho concluído recentemente facilitou a pesquisa, o "hap map". Trata-se de um "mapa" do código genético ressaltando as diferenças genéticas entre seres humanos. O "hap map" é um imenso banco de dados cuja montagem começou a ser feita pelo Instituto Broad, instituição ligada ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e à Universidade Harvard, ambos nos Estados Unidos. Ele busca levantar versões de genes compartilhadas por determinadas populações, conhecidas como haplótipos.

Surfando nesse banco de dados os cientistas descobriram que pessoas de origem européia têm uma variante do gene slc24a5 ligeiramente diferente daquela de populações de origem africana ou do leste asiático. Resta descobrir qual a variação genética que faz com que asiáticos também tenham pele clara.

Já foram identificados cerca de cem genes ligados à produção de pigmentos. O slc24a5 não é o único envolvido na determinação da cor de pele, mas parece ter um papel preponderante pelo menos entre indivíduos europeus.

O estudo também abre a possibilidade de se encontrar novas formas de modificar a cor da pele de pessoas, escurecendo-a ou clareando-a. "O interesse nisso é derivado de um desejo de prevenir a câncer da pele", diz Cheng. Albinos, por exemplo, têm a pele muito clara e são vulneráveis.

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