| | Notícias > | | Quinta-feira, 19 de janeiro de 2006 09h41 Célula-tronco detém diabetes 1 em teste REINALDO JOSÉ LOPES da Folha de S.Paulo
Dados preliminares de um grupo de 10 pacientes, tratados por pesquisadores da USP de Ribeirão Preto, sugerem que o uso de células-tronco adultas pode deter o diabetes tipo 1 e fazer com que os doentes não precisem mais de altas doses diárias de insulina, antes necessárias para controlar o nível de açúcar em seu sangue.
Oito dos que participaram do procedimento experimental já não precisam mais receber a substância --seu próprio organismo voltou a produzi-la, relata o médico Júlio César Voltarelli, coordenador da pesquisa na FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto).
Ainda é cedo para dizer como a ação das células-tronco, oriundas da medula óssea dos doentes, pôde resolver o problema. Afinal, o diabetes tipo 1 se caracteriza por uma guerra civil no interior do organismo: as próprias células do sistema de defesa do corpo se põem a atacar as que estão no pâncreas e são especialistas na produção de insulina. Parece que o transplante (aliás, autotransplante, já que as células-tronco vêm do próprio doente) conseguiu promover o armistício.
Computador reiniciado
"Estamos estudando como o sistema imune [de defesa] se recupera depois", disse Voltarelli à Folha. O procedimento adotado pela equipe da USP lembra a principal tática para trazer de volta à ativa um computador que "deu pau": reiniciar a máquina.
Explica-se: o primeiro passo é usar drogas que "desligam" o sistema imune do doente, impedindo que a destruição das células produtoras de insulina continue. Depois, as células-tronco do próprio paciente (as quais são capazes de dar origem às que compõem o sistema imune) são reinseridas nele. O procedimento foi realizado entre janeiro e março de 2004, e só parece não ter dado certo em dois dos doentes.
É claro que alguém poderia questionar o efeito das células-tronco no processo. Será que a mera supressão do sistema imune já não faria o serviço? "Todos os estudos que tentaram só a imunossupressão não tiveram efeito duradouro", diz Voltarelli. "Os níveis de insulina [produzida pelo organismo] só permaneceram normais enquanto a imunossupressão continuou."
Não é o que aconteceu com a maioria dos pacientes, cujos níveis de glicose e insulina ainda se mostram normais, apesar de o sistema imune ter voltado à ativa. Há três maneiras de explicar isso, enumera o médico. "A mais provável é que tenha havido uma regeneração intrínseca das células beta [as produtoras de insulina]. Outra possibilidade, mais remota, é que as células-tronco tenham migrado para o pâncreas e virado células beta lá. Ou então essas células nunca foram mortas pelo sistema imune, apenas inibidas."
O papel das próprias células-tronco, como se vê, é ainda misterioso. Os pesquisadores ainda tentam entender por que, após o autotransplante, elas simplesmente não deram origem às células anti-sociais do sistema imune. A hipótese que está sendo estudada por Voltarelli e uma orientanda sua é que, de certa maneira, as células-tronco tenham retido características bioquímicas "primitivas" dos pacientes.
"Eles não nasceram doentes, embora tenham predisposição genética [para diabetes tipo 1]. Algum fator ambiental desencadeou a doença. As células-tronco talvez tenham fabricado um sistema imune imaturo, semelhante ao que existia quando a pessoa nasceu", sugere o pesquisador.
Os dados serão submetidos em breve, na forma de artigo, a uma revista científica. Por enquanto, a prioridade da equipe é realizar o procedimento em mais dois pacientes, completando o grupo de 12 pessoas que consta do protocolo de pesquisa. Ampliar o grupo também será necessário.
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