Voltar | Ajuda
     
     Em tempo real  
 Destaques
 Economia
 Educação
 Esportes
 Geral
 Mundo
 Política
 Ciência e Saúde
 Tecnologia e Internet
 Variedades


  VilaBOL
VilaBOL

 
Notícias >
 
Envie esta páginaEnvie esta página

Quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006 09h27
Peixe na dieta ajudou o cérebro a evoluir
REINALDO JOSÉ LOPES
Enviado especial da Folha de S.Paulo a St. Louis

Quem saliva diante de um belo salmão assado ou de um pintado frito pode estar respondendo ao mesmo desejo culinário que permitiu o aumento do cérebro humano ao longo da evolução. Essa é a tese de uma dupla de pesquisadores canadenses, que encontraram uma correlação intrigante entre o consumo de peixe e o avanço da inteligência humana há uns 2 milhões de anos.

A evidência, eles admitem, ainda é circunstancial, mas parece casar com vários aspectos da biologia humana no passado e no presente. "O potencial genético [para o crescimento do cérebro] já podia estar lá, mas permaneceu em silêncio até que essa dieta costeira o catalisasse", disse o fisiologista Stephen Cunnane, da Universidade de Sherbrooke, durante a reunião anual da AAAS (Associação Americana para o Progresso da Ciência, na sigla inglesa), que terminou na última segunda-feira em Saint Louis.

Cunnane e sua colega Kathy Stewart, do Museu Canadense de História Natural em Ottawa, têm se concentrado em duas linhas de estudo diferentes mas complementares para tentar confirmar seu modelo "história de pescador" para a evolução humana.

O problema que eles têm de explicar é o surpreendente crescimento do volume cerebral dos hominídeos, os ancestrais da humanidade moderna. Até 2,5 milhões de anos, o desempenho nesse quesito era pífio, e o cérebro hominídeo nunca ultrapassava os 600 cm3; meros 500 mil anos depois, o valor já se aproximava dos 1.000 cm3, cerca de 80% da média atual do Homo sapiens.

É bom, mas é caro

Cérebros desse tamanho sofrem do principal problema das coisas boas da vida: são um bocado caros. Para um ser vivo, o custo de um órgão se mede pela quantidade de energia que consome. Um bebê humano recém-nascido, por exemplo, tem um cérebro que equivale a 14% do peso de seu corpo, conta Cunnane, mas que consome acachapantes 75% da energia da criança. É a gordura extra dos recém-nascidos, famosa por torná-los "fofinhos", que os ajuda a lidar com esse cérebro beberrão.

Ora, os parentes mais próximos do homem, como os chimpanzés, não têm essa gordura --seus bebês nascem magricelas. Cunnane propõe que a expansão cerebral só aconteceu porque os primeiros membros do gênero Homo aprenderam a armazenar gordura por meio de uma fonte alimentar altamente nutritiva, confiável e fácil de capturar. A aposta dele recai sobre peixes, moluscos e afins, os quais contêm, além do mais, substâncias gordurosas como o DHA e nutrientes como o iodo, ambos essenciais para o desenvolvimento do cérebro.

Faltava saber se o registro das atividades dos hominídeos há 2 milhões de anos atrás apoiava a tese. Foi aí que entrou o trabalho de Kathy Stewart: ela se pôs a levantar os restos de animais associados aos fósseis de hominídeos na África de então. E duas coisas chamaram a atenção dos pesquisadores: os sítios arqueológicos estão distribuídos ao longo da rede de rios e lagos que recobria o Grande Vale do Rift, na África Oriental, indicando que os recursos aquáticos eram importantes; e têm uma bela quantidade de ossos de bagre africano, com marcas de mordida ou ferramentas.

"São peixes ricos em gordura e abundantes durante a época da seca. Ficam perto das margens e podem ser capturados sem a ajuda de armas sofisticadas", coisa que os hominídeos não tinham, explica Cunnane. Verdade ou não, não custa nada continuar a comer aquele pintado na brasa.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre dieta balanceada


    Envie esta páginaEnvie esta página

  • Notícias >