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Quarta-feira, 03 de maio de 2006 09h56
Vírus do Nilo aterrissa na América do Sul
CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

Enquanto o país se preocupa com a potencial ameaça da gripe aviária, um outro vírus assassino faz uma entrada discreta na América do Sul. Cientistas argentinos acabam de detectar em cavalos na Província de Buenos Aires o vírus do Nilo Ocidental, que causa pânico nos Estados Unidos desde o fim da década passada. Sua chegada ao Brasil é provavelmente uma questão de tempo.

O vírus do Nilo foi isolado até agora em três animais: dois pertencentes a dois haras distintos no município de Pergamino e um no hipódromo da capital. Todos os três morreram de encefalite (inflamação no cérebro), sintoma que caracteriza a doença.

Segundo a virologista Silvana Levis, do Instituto Nacional de Doenças Virais Humanas em Pergamino, o seqüenciamento genético de amostras de vírus nos cavalos indica 97% a 99% de identificação com duas linhagens do parasita isoladas em Nova York. Ainda não há casos confirmados em humanos na Argentina. O hipódromo de Buenos Aires disse ontem que não havia ainda informação oficial sobre o caso.

O vírus do Nilo Ocidental (batizado em homenagem ao distrito de Uganda onde foi isolado pela primeira vez) é um flavivírus. Ele é parente próximo de elementos reconhecidamente maus, como os causadores da dengue e da febre amarela. Tem aves como reservatórios e mosquitos como transmissores --e é capaz de infectar de cavalos a jacarés, passando por seres humanos.

O fato de as cepas serem parecidas com as americanas indica que o micróbio foi trazido para a Argentina por aves migratórias vindas dos Estados Unidos. O que é preocupante, pois a rota desses animais passa antes pelo Brasil.

"A gente estava esperando que ele chegasse aqui antes", disse à Folha o virologista Paolo Zanotto, da USP, coordenador da Rede de Diversidade Genética de Vírus da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Cientistas brasileiros já coletaram e examinaram no último ano cerca de 600 aves em vários lugares do país, sem que fosse detectado nenhum sinal do vírus do Nilo.

"Por enquanto, ele passou batido pelo Brasil", afirmou Zanotto. Qualquer mudança nessa situação seria grave para o país. Diferentemente do causador da dengue, que é transmitido por um mosquito "importado" e relativamente raro (o Aedes), o vírus do Nilo Ocidental tem como vetor o gênero Culex --o popular pernilongo--, praga comum em cidades brasileiras. "A gente não tem como controlar o pernilongo", diz Zanotto.

Maus hábitos

O vírus do Nilo Ocidental é menos perigoso que seu primo causador da febre amarela, mas ainda assim tem causado pânico nos países onde se instalou --especialmente nos EUA, onde causou surtos graves em humanos em 1999, com 62 casos, e em 2000, com 21 casos. Na época de sua chegada ao território americano, chegou a matar 20% dos pacientes.

O que torna esse parasita especialmente desagradável é o fato de ele preferir se reproduzir no espaço entre as células do cérebro e invadi-las após a replicação. O parasita leva à desintegração de neurônios e também desperta células do sistema de defesa do corpo para atacar o cérebro na tentativa de livrá-lo do micróbio. Isso causa lesões em pontos tão diversos e sensíveis quanto o córtex cerebral (responsável pelo raciocínio), a medula e o cerebelo.

A infecção costuma durar no máximo algumas semanas, e apenas uma em cada 150 pessoas tem sintomas graves. Mas em muitos desses casos a enfermidade deixa seqüelas.

Colaborou Flávia Marreiro , de Buenos Aires

Especial
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